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1896-1919 - Os primeiros sustos
Durante suas duas primeiras décadas de existência, o cinema pouco experimentou no campo do horror e do sobrenatural. Mas o primeiro exemplar no gênero surgiu
já em 1896 com A Mansão do Diabo (Le Manoir du Diable), mostrando em seus breves dois minutos a primeira aparição de um vampiro, quando um morcego transforma-se em Mefistófeles para gerar diversas criaturas bizarras num caldeirão. O filme foi realizado pelo pioneiro francês Georges Méliès, um dos maiores entusiastas da recém-inventada sétima arte, autor de centenas de filmes recheados com as primeiras trucagens de câmera.
Em 1910 a saga de Frankenstein foi adaptada para as telas pela primeira vez, num curta-metragem produzido por Thomas Edison reinterpretando a obra original de Mary Shelley - então um grande sucesso no teatro. Charles Ogle foi o primeiro ator a viver o deformado monstro criado por mãos humanas - e certamente o
├║nico a ter sua vida gerada num forno! Em 1916 o tema foi retomado no longa-metragem Life Without Soul
( Fig.01 ) , trocando o nome do cientista de Victor Frankenstein para William Frawley. O ator britânico Percy Darrell Standing destacou-se em seu desempenho marcante ao viver a criatura praticamente sem maquiagem.
Faziam muito sucesso também as diversas adaptações das tramas de mistério escritas por Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes (incluindo inúmeras filmagens de O Cão dos Baskervilles), enquanto a obra de Edgar Allan Poe começava a ser descoberta como uma fonte essencial para o horror nas telas. Inicialmente seus contos macabros foram adaptados na França e Alemanha; em 1912 foi realizado The Raven ( Fig.02 ) , primeiro filme americano baseado em Poe, seguido de The Avenging Conscience (1914), do diretor D.W. Griffith.
Durante esta década surgiram também as primeiras
versões de O Médico e o Monstro (1914), O Lobisomem (1913), O Retrato de Dorian Gray (1917) e O Golem (1914) ( Fig.03 ) , produção alemã inspirada na lenda tcheca sobre uma estátua de barro que cria vida na cidade de Praga, em 1580, numa espécie de variação da história do monstro de Frankenstein. O Golem (Der Golem) voltou a ser filmado em 1920 e 36, além de ter inspirado o filme It! (1967), com Roddy McDowall.
A seminal produção alemã O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari) ( Fig.04 ) tornou-se o primeiro clássico autêntico no cinema de horror, realizado em 1919 por Robert Wiene, até então um diretor de obras medíocres. O filme consolidou o movimento Expressionista alemão - influenciado pelo teatro de Max Reinhardt - e estabeleceu a iconografia que iria guiar os filmes de horror pelas décadas seguintes. Em cenários estilizados criados a partir de ângulos impossíveis, o filme narra em clima de pesadelo a história do sinistro
mágico Caligari (Werner Krauss) e sua sombria atração circense Cesare (Conrad Veidt), um sonâmbulo capaz de prever o futuro - mas também um assassino autômato que cumpre fielmente as ordens de seu mestre.
